MEMÓRIA DA DOR, VONTADE DE POTÊNCIA E CASTIGO: UMA ANÁLISE DA JUSTIÇA E DO DIREITO SOB A PERSPECTIVA MORAL E LINGUÍSTICA DE NIETZSCHE

2019 | Graduação

Lucas Roberto Spanholi

Este trabalho tem por finalidade um escrutínio e um mapeamento da filosofia moral e linguística de Nietzsche, abordando seus conceitos, institutos e críticas centrais, a fim de se exercer uma análise da justiça e do Direito, sob seus enfoques. Ao empreender uma guerra à metafísica e denunciar toda a relatividade inerente aos fenômenos morais e sociais, Nietzsche abala as estruturas do pensamento filosófico ocidental. Seus questionamentos e provocações ecoam até os dias de hoje e fazem do filósofo um dos pensadores mais influentes da história. Filólogo de formação e filho de pastor, Nietzsche mudou o curso e o paradigma cartesiano da filosofia do século XIX ao desconstruir o dualismo edificado pela filosofia platônica-cristã. Suas críticas à moral ocidental e, principalmente, seu método investigativo, fazem com que sejam postos em xeque os valores (e seus valores), as instituições, bem como quaisquer conceitos que visavam uma justificativa em si mesmo ou em planos metafísicos superiores. A composição social e psíquica humana é repensada e posta em constante suspeita no pensamento nietzschiano, que enxerga no homem um produto do destino, da história, do seu tipo fisiológico, e das forças ativas e dominantes que o cercam e o constituem. A liberdade de vontade racional kantiana sucumbirá ao espírito livre nietzschiano, do homem que vive uma vida afirmativa com o mundo, com seus impulsos e com a linguagem, se desvencilhando do niilismo e de modelos axiológicos prontos, universais e absolutos. O Direito e a justiça serão, portanto, repensados, mapeados e confrontados com as críticas e premissas nietzschianas, notadamente suas denuncias sobre a relatividade e historicidade da humanidade, da moral, e da própria razão. Suas diretrizes linguísticas serão igualmente abordadas a fim de se esclarecer em que medida são necessárias para a transvaloração dos valores e úteis para o desenvolvimento de um Direito empoderador, de estímulo ao além-homem, e para a emancipação moral e intelectual humana. A relação metafísica que o homem estabeleceu com os signos é substituída, dentro do pensamento nietzschiano, por uma relação afirmativa, pelo entendimento da palavra e da linguagem como instrumentos de expansão subjetiva e de ordenadores multiutilitários das complexas demandas do mundo moderno-contemporâneo. A história humana, eivada de dor, castigo, crueldade e necessidades, nos mostra o que o homem precisou ser para se tornar o que é hoje, bem como as raízes dos institutos morais e sociais. Há a necessidade de uma desmistificação e de um exercício interpretativo histórico-investigativo acerca dos fenômenos históricos. O presente trabalho estabelece nesta seara, portanto, as premissas e parâmetros metodológicos e valorativos para se empreender uma análise da justiça, do Direito, e do processo de domesticação do homem. Palavras-chave: Nietzsche; Moral; Direito; Justiça; Memória da Dor; Linguística; Genealogia; Vontade de Potência; Castigo; Estado; Liberdade; Eterno retorno